Séries


As séries apresentadas aqui carregam não apenas a evolução artística, mas também camadas de memórias e experiências profundamente pessoais. Ao longo de cerca de 10 anos de pesquisa artística, cada obra reflete momentos de questionamento, transformação e entrega.
Ao percorrer esse caminho visual, você encontrará temas delicados e íntimos, expressos nas cores, formas e composições. Cada fase se sobrepõe à anterior, criando camadas de significado que, pouco a pouco, se acumulam e convergem no presente.
Etéreas — 2014


As cores claras refletem a sutileza do início, marcando o processo de descoberta na pintura. Na fase em que surgiram, havia muito sofrimento existencial, dúvidas, medo e angústia em relação à saúde mental, além de um longo período de insônia.
As figuras não estão isoladas; elas dialogam com o espaço ao redor. É como se sussurrassem segredos invisíveis, histórias antigas que não podemos ouvir, mas sentimos. Há um mistério, uma sensação de que algo está sendo dito em silêncio. Essa é a essência da série: uma exploração do intangível, do que está presente, mas nem sempre plenamente compreendido.
Foi essa atmosfera que deu vida às primeiras pinturas criadas em 2013.


Em si — 2014


Iniciada em 2013 e em contínuo desenvolvimento, Em Si é uma série fotográfica dedicada a retratar exclusivamente mulheres na natureza. Fotografar sob a luz do sol é um convite para apreciar o tempo e reconhecer a magnitude de simplesmente ser. Os ensaios são um espaço de conexão e autenticidade, onde a fotografia se torna uma ferramenta para nos reconectarmos com nossa essência. É um momento para celebrar nossa própria beleza e, juntas, buscarmos a luz que há em cada uma.


Olhares — 2015


Esse projeto surgiu quando, pela primeira vez, saí do interior para morar na cidade. As relações mudaram bruscamente, e senti o impacto de estar cercada por muitas pessoas e, ao mesmo tempo, por ninguém. Também me chamou a atenção a frieza nos olhares, a indiferença diante dos desconhecidos.
Olhares é uma série que expressa o desapontamento com a sociedade — o excesso de telas e as rotinas exaustivas — que nos afastam uns dos outros. As pinturas apresentam recortes focados em olhos grandes, um convite para resgatar a presença e lembrar da nossa humanidade.


Entre nós — 2016


Na série Entre Nós, as figuras foram recortadas do fundo para estarem mais próximas do observador, compartilhando o mesmo espaço. Sem um cenário que as delimite, elas parecem existir no aqui e agora, como presenças que atravessam a tela. Essa escolha aproxima a arte de quem a vê, criando uma conexão direta e íntima, onde as figuras não estão distantes, mas entre nós.


Impacto vívido — 2017


Passei um mês inteiro no escuro devido a uma cirurgia nos olhos. Usava um óculos muito forte, e essa série nasceu do primeiro instante após a cicatrização da minha córnea, quando pude olhar o pôr do sol com clareza, enxergando plenamente. Depois de tanto tempo na escuridão, as cores surgiram diante de mim com uma intensidade que nunca tinha visto antes – e que nunca mais se repetiu. Foi um momento marcante, e essa experiência deu origem à série, onde utilizo tintas neon para traduzir o impacto vívido dessa percepção única.


A força da lua cheia — 2019


Em meio a um relacionamento tóxico e a uma rotina exaustiva de 10 horas diárias de trabalho, me afastei da pintura. A preocupação constante com o básico, com a própria sobrevivência, consumiu minha criação. Mais uma vez, me vi em um período de exaustão e tristeza, sem espaço para respiro. Foi então que percebi: até aquele momento, eu pintava minhas angústias, mas, dessa vez, precisava de uma arte que me desse força. Deixei para trás as imagens de mulheres frágeis e busquei criar uma pintura poderosa, que simbolizasse minha resistência e me inspirasse a seguir em frente. Foi a única pintura que produzi em dois anos.


Ritual violeta — 2020


Surgiu após dois anos de bloqueio artístico, quando precisei reinventar minha forma de criar. Para superar a ansiedade que me paralisava ao pintar, mudei de tinta a óleo para acrílica, reduzi o tamanho dos suportes e experimentei novos materiais. Esse período também coincidiu com uma profunda reconexão espiritual, inspirada por estudos sobre energia e arquétipos. O roxo tornou-se a cor central dessa fase, refletindo a busca por cura e transformação. Criando desde pequenos marcadores até grandes telas, essa série marcou meu retorno à pintura.


Selváticas — 2020, 2021


Eu estava presa em um relacionamento doente, sufocada por situações machistas que, no início, sequer percebia. Ele me fazia duvidar da minha sanidade e questionar meus próprios instintos. Mas, conforme a realidade foi se revelando, uma raiva tomou forma dentro de mim — e a cada camada descortinada, essa raiva crescia. Era visceral, um grito interno afirmando que nunca mais sofreria por conta de mentalidades pequenas.
A série Selváticas nasce desse contexto. Usei imagens de animais carnívoros, como harpias, hienas e lobos, para simbolizar a sobrevivência. O vermelho — cor carnal e intensa — representa o ódio acumulado por tudo que já vivi como mulher. Essa série expressa fúria, força e a vontade de erguer bem alto uma bandeira, declarando que nunca mais serei subjugada. As cores são vibrantes e, pela primeira vez, não me limitei: usei todas. O magenta e o vermelho predominam, carregando esse sentimento visceral e profundo. As imagens retratam movimento, confronto e potência. Foi nesse processo que senti minha energia criativa no auge.
Tecnicamente, Selváticas também marcou um novo território na minha arte. Foi a primeira vez que explorei a arte digital com profundidade, utilizando minha experiência em pós-produção fotográfica para potencializar o realismo das imagens.


Elos selvagens — 2021


Elos Selvagens é um mural de mais de 300m², aprovado no edital Arte e Vida, da Prefeitura de Santa Maria. Nele, retratei mulheres com lobos, uma criança com um urso e uma mulher com uma raposa, unindo influências de Ritual Violeta, Selváticas e A Energia da Lua Cheia. O roxo, predominante na obra, foi um grande desafio — criar uma tonalidade vibrante para um mural dessa escala exigiu experimentação, mas o resultado foi recompensador.
Depois da fúria de Selváticas, quis trazer equilíbrio e proteção, simbolizados pela conexão espiritual entre mulheres e animais. A proposta era transformar o viaduto em um portal, onde as pessoas entrariam na minha arte e sairiam do outro lado. O local escolhido foi o Parque Itaimbé, meu favorito em Santa Maria, cidade que me acolheu por nove anos e onde me formei em Artes. Esse mural foi minha despedida, minha forma de devolver tudo que aprendi.
Durante três meses, montei andaimes, pintei sozinha e enfrentei o medo de algo tão grandioso. Quando finalizei, senti uma força incrível. Se consegui pintar este viaduto sozinha, sou capaz de fazer qualquer coisa no mundo.


Parfum — 2021


Sempre quis ter um jardim. Cultivar plantas aromáticas e incorporá-las em sessões meditativas foi um caminho natural, e desse contato nasceu Parfum, uma série que traduz o aprendizado ancestral das plantas medicinais em pinturas. A sensibilidade e o simbolismo das ervas se entrelaçam com figuras femininas e animais, criando uma conexão sutil entre espiritualidade e autoconhecimento.
Dentro dessa série, surgiu a obra Paz no Caos, que representa o impacto da terapia em minha vida. Aprendi que estabelecer limites é essencial para conquistar a paz e o ambiente tranquilo que sempre sonhei. Descobri que, ao impor limites, encontro morada dentro de mim mesma. Ao confiar na minha intuição, aprendi a ignorar o que não faz sentido e afastar o que me agride, preservando minha serenidade em meio ao caos. Parfum é o reflexo desse equilíbrio, onde plantas e cura se tornam parte do processo criativo.


Queimadas — 2021


Depois da calmaria, instala-se novamente o caos. Queimadas é sobre sentimentos engasgados, sobre não falar e queimar por dentro.
Essa série nasceu da urgência, da necessidade de extravasar o que não podia ser dito. A tinta foi lançada com força sobre a tela, guiada pelo corpo e pelo movimento. Diferente do meu processo habitual, aqui não houve fotografia como base, nem planejamento — apenas a transformação bruta da angústia em imagem. Cada pincelada carrega a energia de algo que precisava sair. Queimadas é o incêndio interno que impulsiona a criação.


Lebres — 2022


Enfrentar a morte exige uma força que nem sempre sabemos possuir. Perder alguém nos transforma de maneiras inexplicáveis, e o luto, muitas vezes, é uma dor sem fim. O vazio que fica é profundo, como se não houvesse descanso entre o sofrimento e o alívio. A morte da minha avó me confrontou com a finitude da vida — o câncer a consumiu rápida e dolorosamente. Enquanto isso, outro encontro com a morte se aproximava. Numa manhã, encontrei uma lebre atropelada, imóvel na estrada. Seu olhar vazio e pernas paralisadas revelavam a brutalidade do impacto. Ela, que corria veloz pela natureza, agora não se movia mais. Carreguei-a nos braços, mas, no final, a morte veio novamente.
A lebre, símbolo de agilidade e liberdade, tornou-se um reflexo da impotência diante da morte. O que resta quando somos impedidos de fazer o que dá sentido à nossa existência? Quando não podemos mais escolher pelo que nos faz bem? No xamanismo, o coelho espalha a energia da alegria e da renovação. Ele nos ensina a superar os medos que nos paralisam e nos lembra de que a escassez é uma ilusão — uma prisão mental que criamos para nós mesmos. No entanto, diante da morte, o medo cresce e a escassez se materializa. O que mais tememos é, muitas vezes, aquilo que atraímos. Mas o coelho nos convida a dar nome aos nossos temores, a escutar nossa intuição e a confiar que, apesar das tormentas, o sol sempre nasce. Carregar a morte nos braços me ensinou sobre o tempo — sobre o valor de cada segundo. O coelho, veloz e cheio de vida, nos lembra que o tempo corre como ele: imprevisível e precioso. Não sabemos quando a corrida termina, então é essencial dar sentido a cada passo enquanto ainda podemos correr. Esse encontro com a morte não foi apenas sobre perda. Foi sobre despertar. Sobre abandonar o medo e confiar na vida. Nossa verdadeira força surge quando aceitamos o fluxo do universo e a impermanência de tudo. Precisamos agir agora, enquanto temos tempo, enquanto temos força. Como a lebre que corre, devemos seguir em frente, porque a inércia nos espera em algum ponto. A impermanência é a minha verdade.


Sincronicidades — 2023


Essa série nasceu após a dor da perda, trazendo o significado da transformação e da sincronicidade do universo. Ela representa a confiança de que tudo se alinha no tempo certo. Os elementos presentes nas obras simbolizam a energia em movimento e a alta frequência dos pensamentos.
As cores claras expressam autocuidado e amor pela vida, enquanto o fundo plano transmite clareza. Essa série é sobre canalizar e manifestar a energia mais elevada que consigo emitir através da arte.


Respiros — 2023


Essa é uma série fotográfica da natureza, que surgiu com uma sugestão na terapia, para caminhar e observar a natureza, ela é uma proposta simples, mas que me auxiliou em um momento onde nada mais fazia sentido, ela me ajudou enxergar beleza e contemplar o momento presente.


Súbita— 2023


Projeto fotográfico que nasceu das dificuldades criativas de duas artistas que se uniram para se fortalecer em suas trajetórias. Criado em parceria com a artista e bailarina Camila Matzenauer, essa série surgiu em momentos delicados da vida de ambas, transformando suas dores — tanto na arte quanto em seus ciclos — em expressão visual.
Inspirada no projeto independente de Camila, Rubra Fluidez, que aborda arte e educação menstrual, a série utiliza a cor vermelha para explorar a dança, a natureza e os tabus em torno do sangue feminino. Esse é um projeto contínuo, em desenvolvimento.


Céus— 2023


É composta por quatro peças digitais inspiradas na cor azul, em homenagem ao céu e ao mar de Florianópolis. Foi uma das primeiras criações digitais após minha chegada à ilha, influenciada pela imensidão azul que me cercava.
Cada obra retrata mulheres em momentos de contemplação interna, expressando uma paz madura e plena. A série transmite a sensação de completude — de estar no lugar certo, no momento certo — uma serenidade conquistada pelo esforço e pela caminhada constante.


Pequenas mortes por intoxicação — 2024


Uma obra visual que reflete a deterioração ambiental e a toxicidade das relações humanas. Esse projeto colaborativo une dança e fotografia, tendo início na escrita, com um texto que narra a história de uma personagem afetada pela fumaça, tanto fisicamente, por problemas respiratórios, quanto emocionalmente, em suas relações.
A natureza, a dança e a fotografia são os pilares desse trabalho, que conta com a participação especial de Jeovan Assunção, Camila Matzenauer e Julia Urach. Sigo em busca de novos bailarinos para dar vida a essa narrativa em movimento.


Eu me habitei por inteira — 2024


É uma série de pinturas que traduz a sensação de contemplação, bem-estar e confiança na vida. Inspirada nas horas observando o mar, busquei trazer essa energia elevada para as obras, utilizando tons de rosa claro para simbolizar autocuidado, amor e calma, além de superfícies lisas que representam clareza mental. Elementos como números iguais e desenhos de energia reforçam a sincronicidade e o fluxo do universo. A série reflete a busca pelo desconhecido, o ato de seguir os instintos e se lançar no caminho sem garantias, com a certeza de que a verdadeira casa está dentro de mim. As pinturas expressam a liberdade de habitar a si mesma, a transformação e o pertencimento.

